Cenas

Antropocênica 2

Brasil 2023

O segundo encontro da série internacional Antropocênica aconteceu entre os dias 22 de agosto e 2 de setembro 2023 em Santarém do Pará, Brasil, de forma itinerante, incluindo uma viagem pelo rio Tapajós para atividades previstas em comunidades locais e visita a uma comunidade quilombola.


Antropocênica 2 foi uma realização conjunta da Universidade Federal do Oeste do Pará (por meio de seu Instituto de Ciências da Sociedade, que sediará o encontro), da Wenner-Gren Foundation, da Fundação Calouste Gulbenkian, da Fundação para a Ciência e Tecnologia, do Centro de Filosofia da Universidade de Lisboa e da produtora Nômade, com apoio institucional do Centro de Estudos em Arqueologia, Artes e Ciências do Patrimônio da Universidade de Coimbra.


Um curso aberto a estudantes da UFOPA foi realizado de 22 a 25 de agosto de 2023, para introduzir conceitos da série internacional Antropocênica e propor a elaboração coletiva do manifesto Mundo-Amazônia.


Neste segundo encontro, três eixos estruturantes foram propostos, a saber: Ancestralidades ( I ), Territórios ( II ) e Travessias ( III ). Tais eixos propiciam um contexto temático maior, pelo qual se interconectam: as memórias e experiências humanas no tempo ( I ), de culturas que habitam e transformam as paisagens ( II ) e que lá chegaram por antigas migrações e viagens, inclusive sob a violência da escravatura, por exemplo das travessias transatlânticas desde África à América do Sul no período colonial ( III ).


Consideramos a região amazônica como vasto território-síntese do Antropoceno, que inclui memórias da presença humana transformadora, desde os povos originários (que primeiro transformaram extensos territórios amazônicos em paisagens culturais) às etnias africanas que lá chegaram escravizadas (cujos descendentes habitam comunidades quilombolas), dos mestiços ribeirinhos aos habitantes das cidades em expansão. Neste cenário considerado no presente, encontramos modos de vida e de produção contrastantes, seja aquele da subsistência, em íntima relação com o bioma, seja aquele da exploração econômica predatória, que acelera a degradação ambiental na Amazônia. Neste sentido, vemos na região amazônica um mosaico cultural e socioambiental complexo, dinamizado por fatores da exploração econômica colonialista / capitalista ao longo do tempo.


Tal contexto, em sua interação aos cenários globais sob o Antropoceno, exige esforços transdisciplinares na construção de conhecimentos que devem considerar a multivocalidade de etnias e comunidades historicamente oprimidas, que têm modos de vida tradicionais em relação com os territórios ameaçados por atividades econômicas predatórias em marcha na maior floresta tropical do mundo.


Embora as memórias sejam culturalmente específicas das respectivas etnias e processos históricos, dois fatores "unem" essas trajetórias humanas expressas nas paisagens amazônicas: a violência da escravatura e a violência da exploração econômica do ambiente, que considera o próprio bioma enquanto recurso natural com valor econômico, assim devastado por diversas atividades que impactam antigos territórios, ameaçando modos de vida tradicionais que contribuem para a própria preservação da Amazônia, por exemplo dos povos originários.


O principal objetivo em Antropocênica 2 foi propiciar a multivocalidade em diálogos transversais e interculturais nos eixos propostos, pelo encontro entre indígenas / afrodescendentes / estudiosos / artistas para refletir o Antropoceno, uma época de produção de ruínas, com expressivas evidências tanto históricas quanto arqueológicas, sejam do período colonial — como os restos vestigiais de culturas humanas escravizadas no passado, violentadas no processo de domínio de seus territórios ancestrais — sejam da experiência da vida contemporânea na Amazônia, sob ameaça de interesses econômicos atuais que amplificam processos anteriores, com a degradação ambiental impulsionada por projetos tais como a construção da rodovia Transamazônica durante a ditadura militar, além de novas frentes de destruição, por exemplo das hidrelétricas construídas, entre outras iniciativas preocupantes em tempos de Mudança Climática, como o projeto de exploração petrolífera na foz do Amazonas.


Se, no primeiro encontro transdisciplinar da série internacional Antropocênica em Portugal, centramos as discussões em torno do Sul Global e selecionamos a Amazônia como "território-síntese" das complexas questões e impactos humanos sob o Antropoceno, desta vez, em Antropocênica 2, aprofundamos in situ tais reflexões, em conjunto com as pessoas que lá habitam e enfrentam diretamente os impactos em cena.


Reunimos acadêmicos, artistas e lideranças locais entre as comunidades indígenas, quilombolas e ribeirinhas da região amazônica, em diálogos interculturais conjuntos, com a troca de conhecimentos e experiências, em dinâmicas propícias para se interagir no sentido da construção de novas posturas para os problemas que enfrentamos hoje. Para isso, abordamos parte substantiva da memória e da história das culturas consideradas, sob os três eixos principais referidos acima — Ancestralidades, Territórios e Travessias — incentivando-se assim o entrelaçamento de múltiplas dimensões críticas envolvidas na problemática da colonização, da escravatura, da pobreza, da exploração predatória e do ambiente em ruínas.


Programa completo disponível na esfera abaixo: