Mostra

TransAmazónias: Zonas Imaginárias

Museu de Lisboa - Teatro Romano / Lisboa

Cinema -fora- dos Leões / Évora

Ruínas da Villa Romana de São Cucufate / Vila de Frades, Vidigueira


Durante o primeiro encontro da série Antropocénica em Portugal, a mostra TransAmazónias: Zonas Imaginárias integrou o programa como evento artístico-cultural, iniciado especialmente em Lisboa.

No contexto mais amplo que motiva a própria série Antropocénica, elegemos a Amazónia como tema central da mostra em 2022: vasto território da América do Sul onde coexistem desde povos originários (alguns ainda em relativo isolamento) aos impactos de atividades económicas em diversas frentes de exploração (que avançam inclusive sobre terras indígenas), impactos de vários níveis, muitos ultrapassam fronteiras, ameaçam o equilíbrio do bioma e a sua interacção, em escala global, com a biosfera em tempos de Mudança Climática. Neste sentido, vemos a Amazónia como território-síntese das complexas questões envolvidas em dinâmicas predatórias sob o Antropoceno, a revelar o drama humano e ambiental expresso nas paisagens amazónicas contemporâneas, em mutação, sob impulso da violência nas formas exploratórias, em contraste com a vivência de culturas indígenas que habitam a floresta.

Mas seria possível compreender esse território, considerando-se apenas uma Amazónia, unívoca?

Outras mais coexistem. Desde aquelas que foram nomeadas, sem sabermos hoje como foram chamadas, por nomes assim criados pelos seus primeiros habitantes humanos — que indagavam o ambiente e deram nomes a lugares, plantas, bichos — às que foram vivenciadas pelas antigas etnias descendentes, que assim transformaram outra vez os lugares em paisagens culturais; até aquela outra Amazónia — a que mais se difundiu, entre as sociedades urbanas — imaginada e representada (textual e visualmente) pelos primeiros europeus e todos os demais que ingressavam, por terra e água, nos recessos da grande floresta, transformando novamente paisagens ancestrais em outras realidades, pelas frentes de colonização, velhas e novas, num processo que, por fim, ainda marcha pelo território, passados os séculos.

Da Amazónia, poderíamos talvez vê-la — e compreende-la — como vasto território de imaginários, que transcende qualquer visão redutora, que a defina — e a confine — a um só modo de existência.

A partir do alto à esquerda, em sentido horário: habitante da Reserva Extrativista Arapixi, em Boca do Acre, estado do Amazonas, corta vegetação para a passagem de uma canoa até a área de coleta de castanhas no interior da floresta; mulheres e meninas da etnia Pirahã, observam motoristas que passam pela rodovia Transamazónica, na esperança de receberem alguma doação de alimento; um homem da etnia Yawalapiti caminha em sua aldeia, envolto pela fumaça que cobriu o Parque Indígena do Xingu, na devastação da floresta por incêndios provocados; garimpeiros trabalham na mineração de ouro em uma das maiores zonas de exploração aurífera, na região norte do estado do Mato Grosso. Imagens: Lalo de Almeida.

A mostra iniciou no dia 7 de Outubro de 2022, com projeção de imagens da premiada série fotográfica Distopia Amazónica, do fotojornalista Lalo de Almeida, especialmente no Museu de Lisboa - Teatro Romano, no próprio sítio arqueológico em que estão visíveis as Ruínas do Antigo Teatro (século I d.C.), estrutura monumental componente da paisagem urbana nos tempos da Felicitas Iulia Olisipo (século I d.C.), seguindo depois para Évora, no dia 8 de Outubro, com exibições de filmes dos diretores Jorge Bodanzky e Andrea Tonacci no Cinema -fora- dos Leões / Auditório Soror Mariana. No dia 9 de Outubro foi projetada a recente curta da artista Janaína Wagner nas Ruínas da Villa Romana de São Cucufate, em Vidigueira, Vila de Frades.

Na mostra assim proposta, os filmes exibidos e as fotografias projetadas nas ruínas formaram um conjunto expressivo e híbrido de imagens documentais e imaginários múltiplos a desvelarem no teatro vastíssimo da Amazónia, a tragédia ali presente, que atualiza violentas formas de colonização instauradas no tempo.

Uma das fotografias da série Distopia Amazónica na arte do cartaz de divulgação da abertura da mostra TransAmazónias: Zonas Imaginárias no Museu de Lisboa - Teatro Romano. Imagem: Lalo de Almeida.

TransAmazónias: Zonas Imaginárias articula-se como proposta conceptual que transporta temporalidades e transita por imagens deste imenso território no continente sul-americano, na curadoria de fotografias produzidas por Lalo de Almeida, projetadas em importante sítio arqueológico e histórico de Lisboa, assim como na seleção de filmes de Tonacci e Bodanzky exibidos em Évora, além do filme de Janaína Wagner, em projeção ao ar livre no sítio arqueológico que abriga as ruínas dos tempos da colonização romana em Portugal.

Na imagem para o cartaz da palestra de Sydney Possuelo na Universidade de Lisboa, vê-se o sertanista a liderar em 2002 uma grande expedição de três meses à Terra Indígena Vale do Javari, na Amazónia, zona com a maior concentração de povos isolados do mundo, tema central do relato ilustrado. Imagem: Acervo de Sydney Possuelo.

Assim, no dia 8 de Outubro, dentro do Cinema -fora- dos Leões da Universidade de Évora, realizamos duas sessões especiais. A primeira foi dedicada a Andrea Tonacci, cineasta italiano radicado no Brasil, falecido em 2016, homenageado com a exibição de Serras da Desordem, obra-prima na cinematografia contemporânea brasileira. Nesta homenagem, participaram a cineasta Cristina Amaral (a partir de um relato pessoal, gravado em vídeo), montadora de Serras da Desordem, e o indigenista Sydney Possuelo, personagem do filme, igualmente homenageado no evento, sobretudo por sua atuação em defesa dos povos isolados na região amazónica. A segunda sessão foi uma homenagem a Jorge Bodanzky, com a exibição de Iracema - Uma Transa Amazónica, obra híbrida, entre documentário e ficção, que desnuda a degradação humana e ambiental da região, filmada em plena ditadura militar no Brasil, exibição seguida de um debate com Jorge Bodanzky, Sydney Possuelo e Lalo de Almeida.

Concluindo a mostra, no dia 9 de Outubro, exibiu-se um vídeo relacionado com a presença humana — pretérita e contemporânea — na Amazónia e, por fim, o filme Curupira e a Máquina do Destino, da artista Janaína Wagner, que encerrou a mostra.


PROGRAMA 2

Mostra

TransAmazónias: Zonas Imaginárias


Dia 07/10/2022 - Lisboa

Museu de Lisboa - Teatro Romano*

18:30 - 20:00 . Abertura da Mostra TransAmazónias: Zonas Imaginárias

Intervenção cénica no Museu de Lisboa - Teatro Romano: projeção de imagens da premiada série fotográfica Distopia Amazónica na presença do autor, o fotojornalista Lalo de Almeida, nas ruínas

Mediação de Dirk Michael Hennrich, Maria da Conceição Lopes e Silvio Cordeiro

21:00 . Confraternização (opcional / reserva antecipada)

* Ingressos gratuitos limitados. A inscrição prévia estará disponível aqui do dia 26 de Setembro ao dia 2 de Outubro via formulário específico


Dia 08/10/2022 - Évora

Auditório Soror Mariana / Cinema -fora- dos Leões da Universidade de Évora

14:00 - 14:15 . Mostra TransAmazónias: Zonas Imaginárias

Recepção com Ana Paula Amendoeira, Dirk Michael Hennrich, Luís Ferro e Silvio Cordeiro

14:15 - 16:30 . Sessão Especial 1

Exibição de Serras da Desordem (Dir. Andrea Tonacci)

16:30 . 17:30 . Homenagem a Andrea Tonacci com a presença de Sydney Possuelo e participação especial (via Internet) da cineasta Cristina Amaral, montadora de Serras da Desordem

Mediação de Alemberg Quindins

17:30 - 18:00 . Coffee Break

18:00 - 19:30 . Sessão Especial 2

Exibição de Iracema - uma Transa Amazônica (Dir. Jorge Bodanzky e Orlando Senna), homenagem a Jorge Bodanzky

19:30 - 21:00 . Debate com Jorge Bodanzky, Sydney Possuelo e Lalo de Almeida. Mediação de Luís Ferro

21:00 . Confraternização (opcional / reserva antecipada)


Dia 09/10/2022 - Vidigueira / Vila de Frades

Ruínas da Villa Romana de São Cucufate

11:00 . Transferência coletiva de Évora para Vidigueira (convidados, participantes e ouvintes)

12:00 - 12:30 . Recepção na Câmara Municipal de Vidigueira

12:30 - 15:00 . Almoço (opcional / reserva antecipada)

15:30 . Transferência coletiva para as Ruínas da Villa Romana de São Cucufate (convidados, participantes e ouvintes)

16:00 - 16:15 . Recepção com Ana Paula Amendoeira

16:15 - 16:45 . Palestra de Adriana Veríssimo Serrão {Ruína Histórica e Ruína Metafísica}

16:45 - 18:00 . Visita guiada às Ruínas da Villa Romana de São Cucufate com a arqueóloga Maria da Conceição Lopes

18:00 - 18:30 . Coffee Break

18:30 - 19:30 . Sessão Especial de Encerramento de Antropocénica 2022 com Dirk Michael Hennrich e exibição dos filmes Amanã, Amazónia (Dir. Silvio Cordeiro) e Curupira e a Máquina do Destino (Dir. Janaína Wagner)

20:00 - 22:00 . Jantar (opcional / reserva antecipada)

22:00 . Regresso para Évora (coletivo) ou para Lisboa (individual)

Curadoria 

Silvio Luiz Cordeiro


Autores Homenageados

Andrea Tonacci

Jorge Bodanzky


Convidado Homenageado

Sydney Possuelo


Participação Especial

Cristina Amaral


Autores Convidados

Janaína Wagner

Lalo de Almeida


Coordenação Museu de Lisboa - Teatro Romano

Lídia Fernandes


Produção Executiva Museu de Lisboa - Teatro Romano

Carolina Grilo

Hugo Henriques

Lídia Fernandes

Patrícia Brum


Divulgação Museu de Lisboa - Teatro Romano

Marina Marques


Coordenação e Produção Executiva Cinema -fora- dos Leões

Luís Ferro


Produção Executiva Geral

Dirk Michael Hennrich

Maria da Conceição Lopes

Silvio Luiz Cordeiro


Mediadores

Alemberg Quindins

Ana Paula Amendoeira

Dirk Michael Hennrich

Luís Ferro

Maria da Conceição Lopes

Silvio Luiz Cordeiro


Peça Sonocénica

Silvio Luiz Cordeiro


Desenho de Som

Júnior Aragaki / Estúdio 57

Apoio Criativo

Apoio Divulgação